"quando se trata da minha vida, normalmente perco-me"

Se a vida voltasse atrás eu mudava tudo.

Não sou pessoa de me queixar quando as coisas me correm mal. Apenas engulo isso para mim e sigo em frente. Afinal o que é que um erro vai modificar na minha vida?

Tudo. Um erro nunca deixa de ser algo mau. E consequentemente quando fazes algo mau, algo ainda pior te acontece. Ou então isso é apenas comigo. Sinto que persigo o azar. Que tudo aquilo que acontece na minha vida poderia ter acontecido de outra forma se eu não fosse a pessoa que sou. Sempre necessitei de ter alguém a meu lado. Alguém que me orientasse. Não que eu tenha pouco sentido de orientação, mas quando se trata da minha vida, normalmente perco-me. Nunca sei por qual caminho andar nem que rumo escolher e por vezes, apenas vou. Faço do desconhecido o conhecido. E nem sempre isso se torna bom para mim.

Sabem o que é a ansiedade? Eu não sabia. Mas por razões que eu não quero perceber, fiquei a conhecer o seu significado. No sentido literal. Durante tempos o rumo da minha vida não existiu. Eu estava viva mas era como se não existisse. Como se a minha presença fosse nula. Eu passei metade do tempo deitada numa cama a pensar qual era mesmo o motivo pelo qual eu ainda estava aqui. Sim. Eu questionei-me muitas vezes. Depois percebi que talvez houvesse um propósito para isso, mas aí começaram outras dúvidas. Sempre que eu ultrapassava a pedra no caminho, uma maior estava à sua frente. Sentia vontade de chorar do nada, apenas porque sim. Na verdade isso ainda me acontece, mas eu sempre finjo que não. Sou daquelas pessoas que não gosta de se expor. De dar a conhecer os seus pontos fracos. E eu ainda tenho alguns. Sou bastante orgulhosa. E rancorosa também. Tudo o que me digam fica guardado a sete chaves bem lá no fundo do meu coração. Talvez se algum dia me disseste algo de mau, eu ainda me lembre palavra a palavra do que disseste. Posso até nem dizer na hora que me magoaste. Mas talvez um dia, quando tivermos chateados, eu te conte o acumular de coisas que ocorreram entre nós. Não é a melhor forma de manter qualquer relacionamento. Eu sei que não. Mas eu também já não sei me relacionar com as pessoas. Quando era mais nova eu era conhecida por todos como a menina alegre e brincalhona da família. Eu conseguia colocar um sorriso na cara de toda a gente. Eu via nas pessoas humildade. Eu via humanidade nelas. Mas hoje em dia. Hoje em dia eu não sinto vontade de ver as pessoas sorrir porque sei que tudo isso é falso. Eu não sou engraçada. Nunca fui. Eu era apenas uma criança pura e honesta que ainda conseguia ver algo de bom na humanidade. Uma criança que ainda acreditava que crescer iria ser a melhor coisa que me iria acontecer na vida. Mas crescer foi sem dúvida doloroso. Principalmente porque eu não sou uma pessoa de sorte. Eu nunca tive pessoas a meu lado que me entendessem e ao mesmo tempo me ajudassem. Eu sempre senti durante toda a adolescência que eu vivia num mundo onde eu e os meus amigos competíamos por algo que ainda hoje não consigo perceber o que era. Todas estas amizades que fui tendo era porque elas convinham e não porque eram sinceras. Se foram sinceras, expliquem-me, onde estão elas agora? Ou quando eu mais precisei delas? O mesmo digo sobre o tal de amor. Dizem que os adolescentes são muito novos para saber o que é o amor, mas eu conheço pessoas que namoraram desde a adolescência e continuam juntos. Passado anos. Isso não é amor? Continuar ao lado de alguém passado tanto tempo e continuar a ter vontade de passar ainda mais tempo com essa pessoa? Eu não sei o que é o amor. Nunca tive alguém assim. Alguém que sentisse vontade de estar a meu lado. Alguém que morresse de saudades de mim apenas não me vendo à uma hora.

Nunca fui uma pessoa de me queixar quando as coisas me correm mal, apenas engoli sempre isso para mim e segui em frente. Talvez isso não tenha sido a minha melhor opção de vida. Talvez eu devesse ser mais direta e mais sincera quanto aos meus pensamentos. Talvez eu devesse ser menos orgulhos e rancorosa, mas se eu não for eu mesma, qual é piada de continuar a ser eu?